Monday, February 26, 2007

A RELAÇÃO ENTRE O MASSAGISTA E A EQUIPA DE ARBITRAGEM




Antes de iniciar a minha pessoal apreciação sobre as relações entre os massagistas e as equipas de arbitragem, tenho de frisar as diferenças entre os desportos, no que concerne à entrada da equipa médica no terreno do jogo.
No caso geral, quando se dá a ocorrência de uma lesão a equipa médica só entra em campo após uma prévia análise da situação por parte da equipa de arbitragem e a sua prévia autorização. Nestes casos ainda poderemos considerar duas situações:
1. Em desportos como o Futebol de sete ou de onze, onde o tempo de jogo é controlado pela equipa de arbitragem, ficando ao seu critério a concessão ou não de tempo extra, e no caso de conceder esse tempo também fica ao seu critério o tempo de desconto;
2. Uma outra situação é a de desportos como o basquete, o futsal, o volei, o andebol e tantos outros onde o tempo é controlado pelo tempo de jogo, nuns casos e pelo resultado (por exemplo no volei).
Além destes casos ainda há uma terceira via que é a do rugby, onde (se as regras ainda não foram alteradas), a equipa médica entra em campo, sem necessitar da prévia autorização da equipa de arbitragem e sem que isso implique a interrupção da partida. Aqui também existe uma excepção que é quando o atleta lesionado faz parte do “pack” de avançados (pilares, talonador, segundas-linhas, terceira-linha ou asas). Para os menos atentos e conhecedores da modalidade direi que o “pack” de avançados é composto pelos atletas que formam a mélee ou formação ordenada.
Neste desporto em particular, ainda pode ser permitido pelo árbitro, uma substituição temporária, para que o atleta lesionado recupere fora do terreno de jogo sem que veja a sua equipa reduzida.
É certo e sabido que no desporto as funções estão perfeitamente definidas: Os treinadores treinam, os jogadores jogam, os dirigentes dirigem, os árbitros apitam e os elementos do departamento médico previnem e tratam lesões. É de salientar que os elementos da equipa médica são os únicos que mesmo quando expulsos, podem regressar ao interior do terreno de jogo para cumprir a sua missão.
Os elementos da equipa médica devem abster-se de comentar a prestação da equipa de arbitragem, pese embora o facto destes também saberem regras e viverem o jogo, muitas vezes com a intensidade de um adepto. Não são porém aceitáveis palavras ou gestos de repúdio e ofensas verbais ou corporais para com a arbitragem. Devemos sempre ter em lembrança que das três equipas - a de arbitragem – é a única que não têm adeptos (e mesmo que os tenha estão em número insignificante). Da mesma maneira, não devem os árbitros emitir opiniões sobre o estado clínico do atleta, salvo se o árbitro (como já me aconteceu com um árbitro-médico e existem outros casos), também tenha conhecimentos nesta área.
Ao nível do distrito de Viseu, tenho com a maioria dos árbitros uma relação cordial, respeitosa e de admiração. Com alguns essa relação já é de amizade. Alguns até já recorreram a mim para que eu com os meus parcos conhecimentos colaborasse no debelar de arreliadoras lesões. Também eu já fui advertido por duas ou três vezes, porque no calor do jogo vi de forma diferente um lance gesticulando um pouco mais do que devia. Reconheço e humildemente peço desculpa.
Também já vivi o reverso da medalha. Jamais retiro um jogador de campo sem saber qual a lesão que tem. Uma rápida e correcta avaliação da lesão, leva a um mais eficaz tratamento e a uma mais célere recuperação. Não gosto de ouvir um árbitro a mandar-me entrar em campo e a “proibir-me” de analisar a lesão “obrigando-me” a retirar imediatamente o jogador de campo. Se é só para retirar o jogador do terreno de jogo sem avaliar a lesão, então este trabalho pode ser efectuado (com o devido respeito) pelo técnico de equipamentos (roupeiro), pelos outros atletas ou até pelo árbitro. Os atletas são seres humanos e devem ser tratados como tal. Se uma bola não estiver em condições, podemos dar-lhe pontapé para o lixo e substituí-la por outra. Com um atleta, não.
Sempre estive ao dispor dos árbitros para os ajudar e colaborar com eles quer nas suas lesões, quer no explicitar o porquê de atitudes na prestação dos primeiros socorros. Ainda há dias, num jogo arbitrado por um árbitro com as insígnias da F.P.F., ajudei a recuperar um atleta com cãimbras. Não o fiz da forma tradicional, o que levou o árbitro a questionar-me se sabia o que estava a fazer. Respondi-lhe que no final do jogo lhe daria uma resposta cabal. E assim o fiz explicando-lhe o porquê do meu gesto. Compreendeu e disse-me que muitos colegas meus teriam reagido de forma agressiva. Elogiou a minha postura e recebeu de mim também os elogios por querer saber mais e não continuar na douta ignorância dos seus dias.
Sou apologista de que os árbitros deveriam ter uma formação básica de 1ºs socorros para que nos jogos onde não exista massagista (infelizmente na maioria dos casos) e onde os “aguadeiros” façam esse serviço, sejam os árbitros uma mais valia nessa área.
Sei, por conversa, com alguns árbitros meus amigos, que a maioria esta receptiva para essa formação e alguns mesmo vão-me perguntando como agir na situação A ou B e eu vou tentando ajudá-los.
Ou será que é um escândalo ver um árbitro a socorrer um jogador?

Tuesday, February 13, 2007

DESPORTO NO FEMININO


Volto a este espaço para falar novamente das mulheres no desporto. Sempre apoiei e continuarei a apoiar as mulheres que decidem praticar desporto. E apoio-as por variadíssimas razões.
Em primeiro lugar, porque numa sociedade que tanto proclama a igualdade entre raças, credos e sexos, a mulher tem que ter o seu lugar ao sol e não ser ostracisada por uma sociedade sexista.
Em segundo, porque num estado de direito, cabe a cada cidadão/cidadã, decidir dentro da sua liberdade e sem pressões qual a forma de ocupar o seu tempo livre.
Costumo dizer, que as mulheres têm dois ou mesmo três empregos em simultâneo. O primeiro é aquele que lhe proporciona um rendimento mensal para fazer face às despesas diárias. O segundo é o de dona de casa. E o terceiro é o de ama e educadora dos filhos. Quantos de nós homens, nos esquecemos disso e nos sentamos na poltrona do nosso comodismo, vendo o nosso jogo de futebol.
De salientar também a imagem denegrida que tentam transmitir (felizmente cada vez menos) da mulher desportista. Há não muitos anos, uma mulher que praticasse desporto, especialmente aqueles onde o machismo impera, era considerada uma “Maria-rapaz”, uma lésbica ou ainda uma prostituta. Felizmente a mentalidade tem mudado e é com orgulho que vejo os menos jovens adeptos a apoiar e acarinhar jovens atletas.
O preconceito (leia-se burrice) destas gentes vai ao ponto de mulheres serem “chantageadas” pelos namorados por causa da prática do desporto. E falo em casos concretos. Fui massagista de uma atleta que deixou de praticar o seu desporto favorito devido a uma brutal pressão do namorado.
Lidei com centenas de jovens mulheres na minha curta carreira de massagista. Tenho por todas elas sem excepção um enorme carinho, admiração e respeito. Por vezes colocam-me uma estúpida pergunta sobre qual o pensamento da minha mulher em relação à minha função de massagista de jovens atletas. Riu-me da ignorância e repudio a maliciosidade da questão. Salvo raras excepções, as “minhas atletas” conhecem a minha família, os meus filhos e o meu lar. Nada tenho a esconder. Acima de tudo sou um profissional que quer ser respeitado por todos.
No início da minha carreira, trabalhei com um treinador vindo de um dos países do chamado bloco de leste. Ainda embuído de uma mentalidade de “vitória a qualquer custo”, (senão vejam os inúmeros casos de doping que ocorreram nesses países), disse-me um dia que as jovens atletas na adolescência/juventude (16 a 20 anos) sentem necessidades de afecto e de sexo que muitas vezes os namorados/companheiros não satisfazem. Aí, disse-me com o ar mais intelectual do mundo, tem de ser o treinador ou o massagista a satisfazê-las, nem que seja contra a vontade delas. Ao ouvir esta enormidade, lembrei-me de uma “deusa” da ginástica romena de nome Nadia Comaneci (primeira ginasta a obter a nota 10 em jogos olímpicos), também ela vítima de violação, nos seus tempos de atletas. Mantive-me no clube até à saída desse treinador, ficando no entanto bem mais atento e desperto.
É contra estas atrocidades que luto. Gosto de ver a mulher a superar-se na vida e no desporto. Não podemos continuar a ser a sociedade sexista que apenas reserva para a mulher o lugar de mãe e de esposa. A mulher tem o seu espaço por mérito próprio. Temos de continuar a acreditar, como disse o poeta “nesse belo ser por Deus criado” como mulher e como desportista.
E a pergunta fica no ar: Quem não vibrou e se emocionou ao ouvir o hino Nacional após a vitória de mulheres desportistas como Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Manuela Machado e mais recentemente a jovem Vanessa Fernandes.
Por tudo isso eu digo: Obrigado mulheres do meu país e em especial às atletas do Escola Futebol Clube e das equipa de futsal do distrito de Viseu.

Thursday, February 08, 2007

O MASSAGISTA EM CAMPO

Sempre que é superiormente autorizado pela equipa de arbitragem, o massagista deve inteirar-se das queixas do atleta, para posteriormente, lhe poder ministrar os mais eficazes primeiros socorros.
O atleta “lesionado”, só deve ser socorrido, por quem estiver habilitado para o efeito, não devendo ser retirado do recinto de jogo, sem a prévia autorização dos elementos do Departamento Médico e, sempre sob as suas instruções. Muitas vezes é mais traumatizante um primeiro socorro, do que a lesão em si mesma. Os elementos do Departamento Médico são os responsáveis máximos pelas condições de saúde dos atletas. E a este campo, devem-se limitar estes elementos, não emitindo opiniões, conselhos, nem manifestando quaisquer afirmações de júbilo ou repúdio para com os outros agentes desportivos. Na mesma linha de pensamento, estão os outros agentes desportivos em relação aos elementos do Departamento Médico, excepção feita naturalmente, aqueles com formação na área da saúde.
Poder-se-á argumentar que, “muitas vezes”, os atletas simulam lesões, para “queimar tempo”, muitas vezes com a conivência dos elementos do Departamento Médico. Será verdade. Como é verdade que a verdade desportiva, não é só vilipendiada quando um atleta simula uma falta ou agressão, mas também quando o atleta e os elementos do Departamento Médico colaboram “nesta mentira”.
Quando a presença do massagista (ou outro elemento do Departamento Médico) é recusada dentro de campo, quem assume a responsabilidade pelo não tratamento e evacuação do atleta lesionado? Creio que não haja necessidade de acontecer mais uma “desgraça” para que as pessoas aprendam. No caso do futebol, o senhor árbitro é o único detentor do tempo de jogo. Uma intervenção de trinta segundos, não poderá ser “compensada” com um minuto de tempo extra? A função do massagista (ou outro elemento do Departamento Médico), não pode nem deve ficar confinado, ao simples transporte do atleta para fora do recinto de jogo. Se assim for (fosse), seria mais correcto a existência de maqueiros em detrimento do massagista.

Material em campo

Cada um é que decide, qual o material com que entra em campo. Alguns limitam-se a entrar com uma simples garrafa de água, gelo e uma toalha. Outros, entram com uma parafernália de material, que por vezes seria mais correcto o uso de um veículo automóvel, só para o transporte desse material. Impossível é dizer quem é que está certo. Talvez nenhum... talvez todos. O material a entrar em campo, deve ser aquele que quem o usar, achar por bem. Não querendo usar o “meu sistema” como exemplo, poderei no entanto dizer que uso duas malas, mais o gelo. Uma pequena mala de campo (de uso permanente) e uma outra (maior) de reserva. Na mala de campo, tenho pequenos frascos com solutos para a limpeza e desinfecção de pequenos ferimentos, ligaduras, gaze esterilizada e cloreto de etílio (spray de frio). Na outra tenho material de contenção e penso, material de sutura, fármacos diversos e algum material em stock para a mala de campo. Talvez (de certeza) não é o sistema ideal. Foi sim, o sistema que adoptei e ao qual melhor me adapto.



Evacuação hospitalar

Por vezes, o inevitável acontece. Os meios humanos e materiais, presentes em campo, são incapazes de socorrer devidamente o atleta e/ou entendem que este deve recorrer ao hospital para a continuação/conclusão dos tratamentos. Nestes casos é chamada a ambulância. Muitas vezes ligando o 112, por facilidade, por desconhecimento do número dos bombeiros mais próximos ou mesmo por razões económicas. O 112, pese embora o profissionalismo e competência dos seus elementos, não é, na maioria dos casos, o meio mais prático, nem o meio mais rápido. Todas as colectividades, deveriam ter afixado nos locais de jogo, o número de telefone dos bombeiros mais próximos. Depois o problema que se coloca, é o da acessibilidade da auto-maca ao recinto de jogo. Ou porque não se consegue chegar perto por acidentes físicos ou geográficos ou, porque a falta de civismo de alguns adeptos ao estacionarem as suas viaturas, impedem a normal circulação e a celeridade das equipas de socorro.
Já é tempo, de quem de direito (colectividades, autarquias, etc...) darem “um murro na mesa” impedindo o aparecimento destas situações e minorando os problemas existentes.
É possível fazer mais e melhor.