Tuesday, February 13, 2007

DESPORTO NO FEMININO


Volto a este espaço para falar novamente das mulheres no desporto. Sempre apoiei e continuarei a apoiar as mulheres que decidem praticar desporto. E apoio-as por variadíssimas razões.
Em primeiro lugar, porque numa sociedade que tanto proclama a igualdade entre raças, credos e sexos, a mulher tem que ter o seu lugar ao sol e não ser ostracisada por uma sociedade sexista.
Em segundo, porque num estado de direito, cabe a cada cidadão/cidadã, decidir dentro da sua liberdade e sem pressões qual a forma de ocupar o seu tempo livre.
Costumo dizer, que as mulheres têm dois ou mesmo três empregos em simultâneo. O primeiro é aquele que lhe proporciona um rendimento mensal para fazer face às despesas diárias. O segundo é o de dona de casa. E o terceiro é o de ama e educadora dos filhos. Quantos de nós homens, nos esquecemos disso e nos sentamos na poltrona do nosso comodismo, vendo o nosso jogo de futebol.
De salientar também a imagem denegrida que tentam transmitir (felizmente cada vez menos) da mulher desportista. Há não muitos anos, uma mulher que praticasse desporto, especialmente aqueles onde o machismo impera, era considerada uma “Maria-rapaz”, uma lésbica ou ainda uma prostituta. Felizmente a mentalidade tem mudado e é com orgulho que vejo os menos jovens adeptos a apoiar e acarinhar jovens atletas.
O preconceito (leia-se burrice) destas gentes vai ao ponto de mulheres serem “chantageadas” pelos namorados por causa da prática do desporto. E falo em casos concretos. Fui massagista de uma atleta que deixou de praticar o seu desporto favorito devido a uma brutal pressão do namorado.
Lidei com centenas de jovens mulheres na minha curta carreira de massagista. Tenho por todas elas sem excepção um enorme carinho, admiração e respeito. Por vezes colocam-me uma estúpida pergunta sobre qual o pensamento da minha mulher em relação à minha função de massagista de jovens atletas. Riu-me da ignorância e repudio a maliciosidade da questão. Salvo raras excepções, as “minhas atletas” conhecem a minha família, os meus filhos e o meu lar. Nada tenho a esconder. Acima de tudo sou um profissional que quer ser respeitado por todos.
No início da minha carreira, trabalhei com um treinador vindo de um dos países do chamado bloco de leste. Ainda embuído de uma mentalidade de “vitória a qualquer custo”, (senão vejam os inúmeros casos de doping que ocorreram nesses países), disse-me um dia que as jovens atletas na adolescência/juventude (16 a 20 anos) sentem necessidades de afecto e de sexo que muitas vezes os namorados/companheiros não satisfazem. Aí, disse-me com o ar mais intelectual do mundo, tem de ser o treinador ou o massagista a satisfazê-las, nem que seja contra a vontade delas. Ao ouvir esta enormidade, lembrei-me de uma “deusa” da ginástica romena de nome Nadia Comaneci (primeira ginasta a obter a nota 10 em jogos olímpicos), também ela vítima de violação, nos seus tempos de atletas. Mantive-me no clube até à saída desse treinador, ficando no entanto bem mais atento e desperto.
É contra estas atrocidades que luto. Gosto de ver a mulher a superar-se na vida e no desporto. Não podemos continuar a ser a sociedade sexista que apenas reserva para a mulher o lugar de mãe e de esposa. A mulher tem o seu espaço por mérito próprio. Temos de continuar a acreditar, como disse o poeta “nesse belo ser por Deus criado” como mulher e como desportista.
E a pergunta fica no ar: Quem não vibrou e se emocionou ao ouvir o hino Nacional após a vitória de mulheres desportistas como Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Manuela Machado e mais recentemente a jovem Vanessa Fernandes.
Por tudo isso eu digo: Obrigado mulheres do meu país e em especial às atletas do Escola Futebol Clube e das equipa de futsal do distrito de Viseu.

4 comments:

Anonymous said...

Antes de tudo agradeço k me tenha indicado o blog para k eu pudesse vir ver... o artigo esta sem duvida tocante... ja vai sendo altura do desporto feminino ganhar um lugar na sociedade!

João Carlos said...

Sem dúvida que já é tempo em pleno Séc. XXI, o desporto feminino ocupar o lugar que merece na nossa sociedade e, são pessoas como tu que contribuem para isso. Uma vez mais quero ver-te na Selecção

Smg said...

A cada dia que passa a mulher está atingir patamares que nenhum homem conseguiu até hoje e isso incomoda muita gente... ainda ontem , à vinda de um jogo contra o boavista para o campeonato,parámos na estaçao de serviço em Antua na A1, e estavam lá alguns elementos da claque portista que em puro machismo ao verem as jogadoras do escola começaram a mandar piadinhas em relação à mulher... tipo " elas deviam é estar na cozinha" "elas deviam era aprender lá e não sairem" "futebol para mulheres??? ta bem ta ..." ......e po ai fora... Ainda continua muito machismo pelo pais fora... mas felizmente as coisas estao a mudar de rumo e as mlulheres estao a provar que conseguem fazer muito melhor e tudo ao mesmo tempo (casa, trabalho, filhos... etc)

João Carlos said...

Tens toda a razão. Mas acredita que a mentalidade está a mudar. Mas muitas vezes a culpa também é vossa. A imagem que algumas jogadoras transmitem não é mais favorável. Mas é uma minoria. Eu continuo e continuarei a acreditar nas mulheres desportistas e em especial na vossa equipa. Quem sabe se no futuro os nossos destinos não se voltaram a cruzar. no que depender de mim...
Por fim a minha singela homenagem às jogadoras do Escola Futebol Clube de Molelinhos pela grande vitória sobre o Boavista. E lembrar que há uns anos perder por menos de meia dúzia já era uma vitória. Agora Neide, Catarinas, Leila, Chica, Sueli, Noémia, Ucha, Babá, Tânias, Sandrine, etc., agora é rumo ao 3º lugar (no mínimo) e para o ano - Têm de fazer a dobradinha (campeonato e taça). EU ACREDITO.