Wednesday, January 10, 2007

AS RELAÇÕES ENTRE O DEPARTAMENTO MÉDICO E OS ATLETAS

Cada vez que se fala em Departamento Médico, há quem leia nestas palavras, uma equipa organizada e profissional.
Organizada, talvez; profissional, não necessariamente. Como já frisei em anteriores escritos, o atleta deve ser tido como um todo, e não apenas como um ser biológico com os seus intrincados e complexos sistemas musculo-esqueléticos, nervoso, sanguíneo, respiratório, digestivo, etc.
O factor psicológico (motivação) poderá ser um factor potenciador ou inibidor do rendimento do atleta. Qual será o atleta que poderá render mais? Um atleta técnica e fisicamente fraco, mas motivado ou um atleta técnica e fisicamente forte mas desmotivado. Nesta área é também de vital importância o papel do Departamento Médico, muitos (senão todas) as vezes eme estreita colaboração com a equipa técnica.
Após a recuperação física de uma qualquer lesão, existe o receio natural na utilização da zona lesionada. Solucionado o problema físico é tempo de debelar as “crises” psicológicas inibidoras de um retomar da actividade normal.
Mas não é só após a recuperação que intervêm os factores psicológicos. Também após o surgimento da lesão este factor é primordial. Tem de haver uma completa empatia entre o Departamento Médico e o atleta. O Departamento Médico deve saber escutar atentamente as queixas e receios do atleta para lhe poder indicar e ministrar o melhor e mais completa das soluções para o seu caso.
O atleta deve confiar no Departamento Médico, não lhe omitindo nada e cumprindo à risca as indicações recebidas, para o seu cabal e total restabelecimento.
O conhecimento que o Departamento Médico detém do atleta será um ponto a favor no diagnóstico das mazelas que afectam o atleta e na prescrição do tratamento mais adequado.
Perante dois casos clinicamente semelhantes, será de mais fácil diagnóstico e tratamento o ocorrido no atleta que já se conhece.
Quando se fala em profissionalismo, não se pense que falo em profissão ou dedicação exclusiva a essa área. Falo apenas de total aplicação dos conhecimentos que se possui em prol do total restabelecimento dos atletas.
O Departamento Médico quando não souber, não estiver à vontade e/ou não for competente para tratar uma determinada lesão ou mesmo não a consiga diagnosticar devidamente, deve recorrer a quem sabe mais.
Aquilo de que alguns atletas padecem é conhecido na gíria do Departamento Médico como tanguinite ou preguicite.
Ainda no que concerne ao conhecimento do atleta, enquanto ser humano, na sua complexidade sócio-cultural e temperamental, direi que, no meu caso particular, lidando maioritariamente com jovens de idades compreendidas entre os nove e os dezanove anos, nas colectividades com quem colaboro, tento na medida do possível oscultar as suas angústias e necessidades, tentando-lhes dar os conselhos que a Universidade da Vida me proporcionou. Na maioria dos casos, conheço os seus problemas familiares, escolares e até sentimentais. Os elementos do Departamento Médico devem ser vistos, na sua grande maioria, mais como um amigo mais velho, do que como mais “um profissional” que desempenha funções no clube.
A mútua confiança, será a base para um sucesso duradouro. Havendo confiança e cumplicidade entre o Departamento Médico e o atleta, não haverá as chamadas “tanguinites” e o gelo será aplicado na zona traumatizada e não em qualquer refresco ou copo de wisky.
Desiluda-se o Departamento Médico que despreza os factores humanos e psicológicos do atleta e desengane-se o atleta que pensa iludir o Departamento Médico, não cumprindo a prescrição indicada.
No primeiro caso, o diagnóstico estará certamente incompleto, se não mesmo errado. No segundo caso quem é enganado é o próprio atleta, além de, ser natural o retardamento da sua recuperação e o persistir de algias.
Entre o Departamento Médico e o atleta deve haver “um casamento” baseado na mútua confiança, respeito e inter-ajuda.
Sem estes factores, o “divórcio” será uma realidade que todos irão lamentar e sofrer.