É cada vez de mais vital importância, a presença de um elemento com conhecimentos na área da saúde, nos recintos desportivos, quer durante as competições, quer durante toda a época de treinos e até mesmo fora dela.
O recente desaparecimento trágico de um jovem atleta na flor da idade, ele que, era detentor de uma capacidade física acima da média, atleta de alta competição, sujeito aos mais rigorosos exames médicos, não sendo fumador, nem consumidor de bebidas alcoólicas, veio pôr o dedo numa ferida que muitos julgavam estar fechada.
A realidade
Num país com pergaminhos no desporto mundial, temos assistido nos últimos anos a um “boom” no desporto de lazer e manutenção. São jovens e menos jovens que correm nos passeios das cidades ao amanhecer e ao entardecer, são os populares ginásios, o fitness, a ginástica de manutenção, o cicloturismo, a actividades nas piscinas e um sem número de actividades que “vamos” praticando.
Muitas vezes, talvez na sua maioria, a actividade física “escolhida” tem a ver com factores como proximidade, gosto pessoal, condições sócio-económicas ou disponibilidade. Raramente a actividade física a praticar é precedida de um exame, aconselhamento e acompanhamento médico.
Os recintos desportivos são outra triste realidade. A grande maioria não possui um posto médico devidamente equipado, pessoal devidamente formado na área dos primeiros socorros e muitas vezes, nem uma simples mala de primeiros socorros. Alguns destes recintos não possuem sequer condições, para uma adequada intervenção dos meios humanos e materiais, numa cadeia organizada de socorro.
Darei como exemplo, os clubes de futebol, quer pela sua popularidade, quer pelo facto de ser talvez a modalidade mais praticada no País.
No nosso distrito, a grande maioria dos clubes de futebol, não possuem uma equipa médica.
Sabemos que o ideal, era que cada clube possuísse nos seus quadros uma equipa médica completa composta entre outros por um médico da área da medicina desportiva, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, massagistas e socorristas. Porém, o factor económico fala mais alto e é inviável a presença de uma equipa assim, na maioria das equipas do nosso distrito.
No entanto, sou de opinião, que até o mais simples clube, da mais inferior divisão distrital, deve possuir condições para a prática dos primeiros socorros e da reabilitação de simples lesões e pessoal devidamente preparado e credenciado para o efeito.
Todos os agentes desportivos, jogadores, técnicos, dirigentes e árbitros, deveriam ter uma pequena formação na área da saúde para acrescento da sus sensibilidade nesta área.
Com o mais elevado respeito e vénia por todos os agentes desportivos, direi que o erro (embora humano) é mais grave quando cometido pelos elementos de um departamento médico, uma vez que não estão em causas os resultados desportivos e/ou a viabilidade económica de uma qualquer associação ou SAD e, mesmo que a carreira do jogador não seja importante (quem o poderá afirmar?), a vida humana e a sua condição mais básica, não tem preço.
A realidade nos clubes de futebol, uma vez acabado os saudosos Centros de Medicina Desportiva, é que para cada atleta deve ser apresentada uma ficha médica atestando a condição física do atleta para a prática da modalidade. Porque é financeiramente incomportável para muitos clubes fazer e pagar estes exames médicos a cada um dos seus atletas, é convidado um médico que “assina” as fichas fazendo (fará?) um exame célere, assumindo a responsabilidade que a sua académica assinatura confere a tal documento. Em caso de acidente físico, poderá ser responsabilizado o clínico civil e criminalmente. Mas uma pergunta se impõe: Se o médico é civil e criminalmente responsável, também não o é o atleta (ou responsável no caso de menores) que irresponsavelmente coloca em risco a sua própria vida e o dirigente que dá primazia aos factores económicos em detrimento das condições de segurança e de saúde dos seus atletas?
Orgulho-me de, nos clubes onde passei (Clube Atlético de Molelos, Clube de Futebol “Os Repesenses” , Clube Cruz Maltina Lobanense e Grupo Desportivo de Canas de Santa Maria, só para falar de clubes de futebol), ter sido sempre dada bastante importância a estes factores tratando-os com o profissionalismo possível pelos dirigentes, técnicos e atletas com quem tenho privado.
Tive a felicidade de em todos os clubes ter lidado com presidentes cientes da importância dos cuidados de saúde, tendo em todos estes clubes sido feitos, durante a minha permanência, investimentos nesta área.
Em Molelos, por exemplo, além das condições físicas de que dispõe, “investiu” esta época o clube num dos mais conceituados técnicos massagistas do nosso distrito, apostando assim forte nesta área.
De elogiar também o exemplo o C.F. “Os Repesenses”, que possui orgulhosamente um dos melhores postos médicos do distrito de Viseu, dando garantias a pais, atletas, técnicos e dirigentes e sossegando os sócios ao ver aonde o seu contributo é investido. Um bom posto médico e uma equipa à altura não evita que haja lesões, mas minimiza o seu aparecimento e colabora no seu debelar.
Como diria o meu ex-professor Dr. Joseph Wilson: “Não é pelo massagista que a equipa ganha, mas é pelo massagsta que a equipa perde.”
Sempre fomos o parente pobre do futebol. Na nossa área todos dão opiniões, toda a gente sabe e muitos até afirmam ser superfula a nossa presença nos recintos desportivos, pois afirmam: “Para levar uma garrafa de água e gelo, aos jogadores, qualquer um leva. E se houver algum problema, chama-se uma ambulância!”. Nada mais errado. Mas, mais importante do que legislar (e nisso os portugueses são especialistas) e criar regras, é preciso tentar a missão impossível de mudar as mentalidades dando ao nosso povo a tão necessária cultura de segurança.
Espero não tornar a ver atletas a desesperar por falta de socorro, nem atletas indevidamente socorridos.
Sei que não é possível ter uma ambulância em cada jogo, mesmo porque a maioria dos corpos de bombeiros, não dispõe de meios humanos para o efeito. No entanto podemos tentar fazer mais e melhor.
É possível.