A INEXISTÊNCIA DE UMA CULTURA DE SEGURANÇA
Prevenir
Não é por adoptar todas as medidas de segurança que, os acidentes não acontecem.
A prevenção, deveria ser o ponto de partida para todas as actividades do homem. Todos os dias ao sairmos de casas, pensamos se vai chover, no que temos que fazer, etc.
Com isto estamos a prevenir, para que ao longo do dia não sejamos confrontados com surpresas desagradáveis.
No nosso dia a dia, são centenas os gestos que mecanicamente fazemos, adoptando medidas de prevenção e de segurança. O colocar do cinto de segurança, o confirmar se a porta ficou devidamente fechada, se podemos avançar num cruzamento ou rotunda em segurança, etc.
No mundo do desporto esta falta de cultura de segurança, é igualmente gritante.
A grande maioria dos atletas, não adopta, por falta de cultura de segurança ou por falta de informação, regras mínimas de segurança e de prevenção de lesões. Não são só os atletas profissionais e de alto rendimento que se devem preocupar com estes assuntos.
Partindo de um pressuposto de que um determinado atleta se encontra capacitado para a prática de uma modalidade (por exemplo o futebol), deve o mesmo antes de qualquer treino ou competição efectuar o devido e necessário aquecimento, não se limitando à simples massagem, recorrendo a bálsamos que apenas ruborizam a pele, dando uma falsa sensação de aquecimento muscular.
A própria alimentação deve ser controlada, quer na sua quantidade, qualidade, valores proteicos, hidratos de carbono, valor calórico, vitaminas, entre outros parâmetros, horas das refeições, sempre tendo em conta a modalidade praticada e a idade do atleta.
O próprio vestuário é importante não só para o bem-estar físico do atleta como na prevenção de lesões. Este deve proteger o atleta das condições climatéricas, permitindo a sudação mas, evitando episódios de hiper ou hipotermia.
Ainda no que concerne ao mundo do futebol, deveriam todos os atletas proteger a zona da articulação tibio-társica, efectuando a colocação de uma ligadura elástica compressiva de protecção a esta zona.
É do conhecimento geral que, a articulação tibio-társica é conjuntamente com o joelho (tendão rotuliano e ligamentos cruzados), umas das zonas/articulações mais massacradas e onde mais frequentemente ocorrem lesões nos futebolistas. O entorse tíbio-társico, é certamente, a lesão mais usual nos futebolistas. Mas quantos atletas têm por hábito ligar os pés. Não muitos estou em crer. A simples colocação de uma ligadura elástica compressiva, colocada na direcção contrária ao entorse mais vulgar (pé rodando “de dentro para fora”), pode evitar alguns entorses e minorar os outros.
A questão que se coloca é de que, não seria correcto os técnicos responsáveis pelas camadas mais jovens, nomeadamente nos escalões de escolas e infantis, sensibilizarem estes jovens atletas para a necessidade e utilidade de tais gestos. Assim não encontraria-mos seniores a “não se adaptarem” ao uso desta simples ligadura elástica de protecção.
Creio que esta aposta na prevenção e na cultura de segurança, deve ser incutida nos mais jovens atletas e nos seus técnicos, porque os acidentes não acontecem só aos outros.
E estarão os clubes dotados de um espaço físico destinado ao departamento médico?
A resposta será na sua grande maioria dada pela negativa.
O espaço destinado ao posto médico, é indispensável para o melhorar do funcionamento de um clube, ainda que o clube em causa seja constituído por um só escalão.
A sua área de acção não se cinge só aos tratamentos e reabilitação (principio de socorro à posteriori), mas acima de tudo como um principio preventivo no que concerne ao aparecimento de lesões.
De cada vez que este assunto “vem à baila”, logo surge o “fantasma” económico e das dificuldades em angariação de fundos. Nestes casos, o “supérfluo” posto médico é dos primeiros visados e dos primeiros (muitas vezes o único), a sofrer os cortes no orçamento, chegando muitas vezes a fechar por falta de verbas. Diz o ditado popular que “mais vale prevenir, do que remediar”. E na grande maioria dos casos, os gastos com a prevenção não são mais do que um investimento no futuro. Fica bem mais barato prevenir, do que remediar. Prevenir, dificilmente afastará um atleta dos treinos e dos jogos. Os tratamentos, na grande maioria das vezes afasta o atleta dos treinos e da competição. É de salientar, o que toda a gente sabe, mas que muitos esquecem. Antes de ser atleta, é pessoa. E a sua condição de ser humano é indubitavelmente mais importante que a sua condição de atleta. Deve sempre o Homem/Atleta ser visto na sua complexidade como um ser bio-psico, social e cultural, com a sua identidade intlectual, seus sentimentos, hábitos e valores socio-culturais e nunca nos limitar-mos à simples análise do Homem/Atleta como um ser biológico, composto de músculos, esqueleto, órgãos, tecidos, etc.
É fundamental ter-se capacidade para oscultar o atleta, para poder despistar lesões.
De vital importância é, a rígida definição de papeis, dentro do grupo de trabalho. Não existe ninguém mais importante do que o outro num grupo de trabalho. Cada um tem a sua função e a sua importância relativa. Todos, são como elos de uma corrente, trabalhando para um mesmo objectivo, não devendo por isso haver supremacia de uns em relação a outros. No caso do departamento médico, não se lhe poderá pedir, obviamente, que em cada desafio, escolha os jogadores que irão jogar de inicio. Assim não devem também, os treinadores, directores, adeptos ou árbitros, interferir com e nas decisões do departamento médico. Quem decide se o atleta está ou não em condições (em termos de saúde) para a prática da modalidade é o departamento médico. Por fim, lembrar que segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), saúde é “o completo bem estar físico, social e mental e não apenas a ausência de dor ou efermidade”.