“Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza,
duas folhas iguais.”
António Gedeão
Sempre fui apologista de que no desporto, devemos usar de muita "psicologia" se queremos obter os nossos objectivos. Nas camadas mais jovens é de vital importância a vertente psicológica nos atletas. Um jovem atleta tem no seu dia-a-dia três modelos que tenta seguir. Os pais, os professores e os treinadores (aqui englobo toda a equipa técnica e directores). Dos pais recebem “o pão e a educação”. Dos outros apenas a educação. Mas não será a educação o alimento (pão) do cérebro. É de vital importância o incentivo ao jovens atletas para que eles consigam atingir patamares mais altos. Devemos responsabilizá-los sem nos desresponsabilizarmos. Como? É fácil. O jovem atleta (e não só) deve ser conhecedor das suas capacidades e potencialidades. A nós mais velhos (treinadores, dirigentes e equipa médica) cabe-nos a grata tarefa de moldar esses diamantes, fazendo-os acreditar nas suas potencialidades sem nunca estabelecer metas para as atingir. Cada jovem atleta (como cada homem) é único na sua universalidade.
Há atletas que vivem dramas pessoais inimagináveis e vêm no desporto o seu escape. Se nós os pressionarmos, criticarmos e menosprezarmos o seu esforço estamos a contribuir para uma pior situação do atleta.
Recordo nos (maravilhosos) anos que passei ao serviço do C.F. “Os Repesenses” (CFR), os dois anos que trabalhei com Nuno Santos e com o Prof. Luís Pereira e com soberbos e dedicadíssimos directores como o Carlitos, o Zé Leiria, o Hilário, o Zeca Monteiro, já para não falar na família Lopes (principalmente a “eléctrica” D. Graça). Nessas duas épocas o C.F. “Os Repesenses” obteve dois títulos de campeão distrital de futebol (um de Iniciados e outro de Juvenis). Se o título de juvenis se aparentava como “obrigatório”, visto a qualidade do plantel, o de iniciados surgia quase como “missão impossível”. Esta equipa era uma mescla de jogadores iniciados de 2º ano que, no ano anterior havia disputado o campeonato nacional e havia descido no último jogo, mais um grupo de talentosos atletas oriundos dos infantis.
Treinando em apenas meio campo (quantas vezes até só na grande área) e dispondo de um plantel de 52 (!!!) atletas, dos quais 37 federados, Nuno Santos e Luís Pereira fizeram um excelente trabalho. Jogaram TODOS os jogadores, sem excepção. A história mais caricata desse ano prende-se com a utilização como titular de um guarda-redes que se estreou no jogo que decidiu o título. Nesse dia, no jogo em Mundão contra o Cabril, ao ver o onze inicial deparei-me com o nome de Paulo como guarda-redes titular. Mesmo tendo em conta que o CFR tinha nessa época 4 guarda-redes (Emanuel, Peixoto, Eduardo e Paulo) achei estranho que fosse o Paulo o titular, pois dos quatro era o menos rodado e experiente. Sem querer invadir a esfera de acção do treinador, questionei-o qual a razão de tal atitude. Respondeu-me que o fez por o Paulo ser o único que havia efectuado todos os treinos nessa semana e que merecia ser titular. Fomos campeões (só com vitórias da fase final) e certamente, Paulo (tal como nós), jamais nos iremos esquecer desse dia.
Hoje, recordamos com orgulho essas épocas. Sendo que todos quantos colaborávamos na altura não éramos remunerados, o nosso melhor pagamento é o enorme carinho de atletas e pais por nós (e de nós por eles obviamente). Contribuímos nessa época para uma filosofia de espírito de grupo que ainda hoje prevalece entre todos nós. No futuro, certamente estaremos em lados opostos da barricada (leia-se seremos adversários) mas, a “rivalidade” será de apenas 90 minutos.
Como cúmplice dessas duas épocas, só tenho de agradecer a oportunidade que me foi concedida.
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