Friday, May 25, 2007

CAMADAS JOVENS (De novo e sempre)



Como é possível ambicionar-mos que israelitas e palestinos vivam em paz? Não será utopia sonhar com a pacificação do médio oriente e o final dos conflitos na América Latina?
Digo isto, porque no mundo do futebol, dentro de uma nação una e independente, tantas guerras se instalam e se criam. Será que é só devido ao fanatismo exacerbado ou facciosismo de uma série de adeptos, defendendo as suas cores clubisticas, com maior “paixão” e “fervor”, do que os cavaleiros da idade média defendiam as suas damas? Ou serão daqueles que orbitam em volta do futebol, onde “investem” uns cêntimos e esperam obter um lucro fácil, rápido e sem impostos de milhões?
Muitas vezes, aqueles que produzem o espectáculo (jogadores, treinadores e árbitros) são os que menos usufruem dessas imensas verbas que abundam no nosso futebol.
Ao nível distrital vemos colectividades subsidio-dependentes, que inscrevem camadas jovens, não lhes proporcionando no entanto as mais básicas condições de trabalho, nomeadamente no que concerne à presença de técnicos credenciados (treinadores), preparadores físicos (professores licenciados em educação física) e alguém ligado à àrea da saúde (lá estou eu novamente a falar neste assunto).
Em alguns clubes, aos mais jovens é disponibilizado apenas “um cantinho” do campo para treinos, umas bolas velhas e gastas que os séniores já não querem, pois os subsídios ofertados pela autarquia são uma “gota de água” no imenso oceano que é o pagamento aos amadores que jogam na equipa sénior.
Aos jovens, muitas vezes não é ofertada uma simples sandes e um sumo, no final de cada jogo, enquanto “os amadores seniores” almoçam e/ou jantam por conta do clube.
Aos jovens é muitas vezes “disponibilizado” um ex-atleta ou um director, sem curso de treinador, sem formação nem informação sobre metedologia de treinos, preparação física que, cheio de boas intenções, lá vai treinando e dando as tácticas de jogo. Porém, como sabiamente diz o nosso povo, de boas intenções... porque dar a táctica para o jogo, qualquer um dá. O pior que pode acontecer, é a derrota da equipa. Agora treinar, sem os mínimos conhecimentos de preparação física (aquecimento, resistência, força, alongamentos, etc.), já não é tão fácil.
Em alguns clubes, a verba investida com um só atleta sénior (inscrição, vencimentos, equipamentos, transporte e alimentação) daria para manter em competição uma equipa jovem na distrital de Viseu.
Quase todos os anos, ao consultar-mos os comunicados oficiais da Associação de Futebol de Viseu, deparamo-nos com uma situação que se não fosse triste e surreal seria certamente motivo para o anedotário nacional. Quase todos os anos, deparamo-nos com clubes que inscrevem escalões jovens para depois “desistirem”, submetendo-se à punição pecuniária e disciplinar da Associação de Futebol de Viseu, deixando algumas vezes os miúdos na expectativa de poderem praticar o seu desporto favorito, para em seguida se desiludirem. Após a suspensão decretada associativamente, lá estarão eles na primeira linha para voltarem a repetir a “gracinha”. Até já houve clubes que se inscreveram em todos escalões, para depois competirem em... nenhum. Assim, não é possível.
Já é tempo, das autarquias e os nossos políticos, criarem condições para “fiscalizarem” o uso do dinheiro dos contribuintes atribuído sob a forma de subsídios aos clubes do seu Concelho. Não seria mais correcto, os autarcas responsáveis pelo pelouro do desporto, conjuntamente com a sua equipa de trabalho, atribuírem subsídios diferenciados para aquelas colectividades que “investem” em condições humanas e materiais para os atletas em detrimento de mais ou menos chorudos vencimentos atribuídos a “amadores”?
E ainda há aqueles dirigentes que nunca investiram um cêntimo na formação (sendo esta mantida pelos pais e pelos próprios atletas), vendo apenas os escalões como um mal necessário que, quando um jovem tenta a transferência para outro clube, onde os seus sonhos e ambições possam ter futuro e as condições de trabalho sejam boas (ainda que não as ideais), recusam a simples dispensa do atleta (mesmo que dele não precisem), prescindindo das taxas de compensação ou nos casos de atletas pertencentes a escalões inferiores aos juvenis, recusando mesmo a cedência, cortando assim “as pernas” aos atletas.
Esta taxa de compensação, visa compensar o clube do investimento feito no atleta.
Mas nesses clubes, que investimentos foram efectuados com o atleta? E será que a verba em causa irá ser usada para investir nas camadas jovens ou, para pagar mais um salário aos séniores “amadores”?
Depois venham-me falar em formação. Felizmente existem excepções à regra. Para esses, os meus parabéns.

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