Desde que estou ligado ao fenómeno desportivo, como massagista, sempre estive umbilicalmente ligado ao desporto no feminino.
Curiosamente, a minha primeira equipa foi a Associação dos Trabalhadores da Câmara Municipal de Tondela – Secção de Andebol (hoje Tondela Andebol Clube), entrou em competição com duas equipas: Uma equipa masculina de iniciados e outra de Juvenis femininos.
Logo aí, tive o meu primeiro contacto com uma equipa feminina. Não foi o meu primeiro contacto com mulheres desportistas. Ao longo dos anos em que fui voluntário na Cruz Vermelha Portuguesa, dei apoio em ambulâncias medicalizadas e para-medicalizadas, a provas de atletismo e a outras provas onde participavam equipas femininas.
A mulher não é só um ser humano do sexo feminino. Tem especificidades únicas. Deve ser analisada como um ser complexo nas suas componentes bio-fisico-psico-socio-culturais e não como um atleta fisicamente mais débil que o homem.
Nas mulheres que praticam desportos, nota-se uma dedicação muito superior aos homens. Muitas delas lutam contra os absurdos preconceitos da sociedade machista que continua a entender que alguns desportos estão limitados ao sexo masculino. Infelizmente, cheguei a ouvir alguns “machos latinos” a dizer que só iam aos jogos para apreciar os atributos físicos das atletas, já que elas nem sabiam o que era uma bola.
Quando fui massagista da equipa do Escola Futebol Clube de Molelinhos (presente na 1ª divisão Nacional de Futebol), ouvi vários comentários depreciativos em relação às minhas atletas (a que eu carinhosamente chamo de minhas meninas). Colaborei com o clube de forma graciosa, recusando convites remunerados de outros clubes. Fi-lo, na plena consciência de que estava a colaborar com um grupo de jovens que amavam o desporto (mais precisamente o futebol). Vi atletas a fazerem sacrifícios pessoais para poderem jogar. Dou como exemplo, uma atleta residente no concelho de Cinfães (a aproximadamente 100 Km de Molelinhos – Tondela) que para praticar o seu desporto de eleição, deslocava-se à sexta-feira de autocarro ao fim das aulas para Viseu, onde chegava cerca das 19h30m. Aí chegada, entrava para a carrinha do clube para treinar (ao frio, à chuva, ao vento, etc.) até cerca das 21h45m. Depois dirigia-se para Viseu, onde pernoitava em casa de uma colega, de sexta para sábado e de sábado para domingo, para no domingo de manhã, novamente na carrinha do clube deslocar-se para o jogo desse fim de semana (muitas vezes jogos no Porto, Bragança, Lisboa ou Setúbal). No final dos jogos (principalmente os jogos fora), regressava a casa, onde por vezes já chegava no dia seguinte, para mais uma semana de aulas. Durante esse fim de semana, privava a família, amigos e namorado (não se tinha), da sua agradável companhia SÓ para jogar futebol. E o que é que ela recebia? Nada (se excluir-mos a sandes e o sumo no final do jogo). A três quilómetros de distância viam-se jogadores de uma equipa da ex-1ª divisão distrital de futebol, a serem principescamente pagos, com direito a prémios de jogo e almoço colectivo no dia de jogo. Diferenças entre as duas equipas: Uma (o Escola Futebol Clube de Molelinhos - EFC) disputava e disputa o Campeonato Nacional de Futebol da 1ª Divisão, divulgando o nome da localidade, do concelho e do distrito, a nível Nacional. Outra, disputa um campeonato distrital, ajudando a divulgar o concelho no distrito (digo ajudando porque não é a única). Outra diferença é ao nível dos atletas. O distrito de Viseu, possui ao nível de futebol, ao longo da sua história, um punhado de atletas que já defenderam as cores das diferentes selecções nacionais de futebol. Lembro-me de nomes como Paulo Sousa, Leal e mais recentemente atletas juniores do Ac. Viseu.
No EFC, pontuam/pontuaram oito jogadoras chamadas aos trabalhos das selecções nacionais de futebol feminino, a saber: Neide, Cristiana, Chica Maia, Noémia, Ângela, Catarina Bernardes, Catarina Almeida (com esta não tive o prazer de trabalhar), Susana Marques e Tânia Almeida. Sete jogadoras internacionais e pouco ou nenhum reconhecimento local.
A mulher tem um espaço próprio no universo futebolístico nacional. No entanto, uma sociedade cada vez mais masculinizada, impede-as de usufruir deste bem. Recordo-me da minha passagem pelo EFC, onde uma promissora atleta abandonou a competição, porque o namorado não a gostava de ver a jogar futebol (!!!). Em que sociedade é que vivemos? E ainda há quem critique o regime talibam pela discriminação que fazem ao sexo feminino. Tenham, vergonha!
Um dos outros problemas da mulher no desporto, é o casamento e os filhos. A nós homens, nada nos impede de continuar a praticar desporto, depois do casamento e até no dia do nascimento dos nossos filhos. Quanto à mulher…
Orgulho-me de continuar amigo das atletas com quem privei. Nunca recusei um pedido de apoio em caso de lesões, muitas vezes com o sacrifício de horas de descanso e do convívio com a família. Por isso, não é de estranhar que estranhar que, todos os anos no Natal e no dia dos meus anos o meu telemóvel seja inundado de mensagens de boas festas e de parabéns.
Tudo o que posso fazer para o bem-estar dessas atletas e pela continuidade da sua actividade física, farei. Em primeiro lugar como homem que acredito no desporto no feminino mas, principalmente porque jamais recuso um pedido de ajuda de quem sou amigo.
A criação deste nosso blog, teve como objectivo primeiro a divulgação de um tema que me é querido: Desporto e Saúde. No entanto como todos sabeis saúde não é só a ausência de doenças, mas sim um completo bem-estar físico e psicológico. Este espaço estará sempre à disposição de todas vocês mulheres-desportistas para o esclarecimento de todas as dúvidas que o meu parco conhecimento possa esclarecer.
Ultimamente é com grande orgulho que vejo jovens mulheres a abraçarem a carreira da arbitragem, no distrito de Viseu. São entre outras a Rosa, a Olga Almeida e a Joana Rodrigues (Caiado). Estas jovens, acrescentam à inegável qualidade que têm (e o respeito dos e pelos jogadores) uma beleza diferente ao futebol. Parabéns à sua coragem (e beleza) pelo exemplo que são para os mais novos da nossa sociedade. Como cidadão, ex-praticante e massagista, só posso fazer uma respeitosamente uma vénia e dizer: Muito obrigado.
Para as dúvidas deixo aqui o meu email: jcmvale@gmail.com.
8 comments:
sem dúvida... concordo plenamente com o que li e, acho que nunca devemos desistir dos nossos sonhos e daquilo que gostamos por causa de descriminaçoes ou pessoas sem a minima cultura desportiva.
sempre lutei pelo que quis e se nao fossem as lesoes estaria a jogar neste momento,mas, em breve voltarei a fazer aquilo que tanto gosto e que tantas alegrias me tem trazido.
o futebol ja nao é uma coisa que faz parte do meu mundo...ele sim, é o meu mundo=)
Ja agora , agradeço a todas as pessoas que nos apoiam e acreditam em nos,, tal como, o nosso " bola 5". obrigada.=)
***bjs***
Cara Joana
Vieram-me as lágrimas aos olhos quando li a tua mensagem. São pessoas como tu que me continuam a fazer a acreditar na humanidade. Sei como quase ninguém como foste fustigada com lesões. Não fossem elas estarias neste momento no mais alto patamar do futebol Mundial, sem dúvida. Portugal seria certamente demasiado pequeno para o teu talento. Não é por acaso que sempre foste conhecida como Mini-Deco. Ele (Deco) certamente teria orgulho de ver alguém tão bonito ser comparado a ele. Acredito que em breve vais chegar aonde mereces e aonde devias estar. Na Selecção "A".
Beijos do amigo
Bola 5
De facto no mundo em que vivemos ainda existe muita descriminação da mulher! Mas, ja se nota que, os tempos estão a mudar e a mulher está a conseguir atingir patamares superirores que muitos homens nunca conseguiram atingir até hoje! Às vezes dou por mim a pensar se o homem tem receio de ser ultrapassado pela mulher.... às tantas! 8-) Muitos pensam assim e dificultam o progresso da mulher!
Caro amigo João, quero deixar uma palavra de apreço, gratidão, de amizade pelo que tem feito por nós jogadoras do EFC. Cuida de nós com muito carinho e está ali sempre pronto a ajudar seja qual for o problema que tenha surgido e, seja a que hora for e sem querer nada em troca! Tenho pena que não esteja neste momento a acompanhar a equipa porque necessitamos sempre de um bom massagista como o João para nos apoiar!
Agradeço tudo o que tem feito por mim até aos dias de hoje. Não sou jogadora de grande relance no futebol feminino mas gosto de ver que existem pessoas que se preocupam com as meninas do EFC! O meu e o nosso muito obrigada! Suéli Giestas
Cara Sueli é falso que tudo o que faço não tenha nada em troca. Não consigo contabilizar o vosso sorriso e a vossa amizade. Esse sim é o pagamento e eu continuo devedor.
Um beijo...
Ao ler este blog deu-me uma saudade dos meus tempos de futebolista...n k tenha deixado por completo mas deixou de estar em 1ºplano e passou pra 22º:-)!Como disse o meu querido Bola5 eu tive k fazer loucuras pra poder jogar fut,principal/ quando joguei no EFC em k "obriguei" os meus pais a ter despesas extras e a deixar de ter fds só pra jogar, mas n me arrependo nada pk conheci pessoas de que me vou lembrar sempre!
N vou contar a minha historia só espero k as mulheres ligadas ao desporto nunca desistam dos seus objectivos/sonhos(n façam como eu)e espero k um dia nos dêm o devido valor.
Obrigado Bola5 tudo.......beijos pro povo de Viseu e arredores k já n vejo á mt tempo
Cara amiga, a única coisa que nos separa é a distância física, que os telemóveis e a internet ajudam a encurtar. Também eu tenho saudades da Capitã da 1ª Selecção de Futebol Feminino do distrito de Viseu. Tu vais voltar a jogar futebol ao mais alto nível numa equipa de topo como mereces.
Um beijo do Bola5.
o tabú mulher no dsporto por vezes é dificil de suportar maior parte das vezes pela mulher.
eu devo ter sido das primeiras pessoas a trabalhar com uma mulher ao lado, dei-lhe responsabilidades como hoje dou ao meu preparador físico, confiei nela como hoje voltaria a confiar, principalmente nos seus conhecimentos (que eram muitos), no entanto acho que o pensar das mulheres quando surgem situações de conflito de ideias poem logo em causa o seu orgulho (que é mais elevado) por causa do tabú mulher.
penso que hoje em dia poderiam ser mais humildes no seu trabalho desportista. penso que elas é que ainda vivem mais o tabú.
Andava por aqui a vaguear quando me deparei com este post.
Desde já é de louvar e agradecer o apoio e força que com ele nos deste.
O papel da mulher no desporto, principalmente no que diz respeito á arbitragem, tem sido desde os primórdios visto de lado por muitos dos elementos que o constituem.
Mas é de enorme sorriso nos lábios que verifico que cada vez mais a paixão que as mulheres têm por desporto é cada vez maior, e que a sua força de vontade faz com que enfrentem de peito bem cheio as dificuldades que se nos deparam.
Neste mundo masculinizado da arbitragem são palavras como estas que nos fazem ter mais força e empenho em lutar pela nossa paixão... a arbitragem...
O meu obrigado desde já pelas tuas palavras
Atenciosamente,
Joana Caiado
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