Tão alto, mulher vaidosa
Quem sobe assim vai cair
Na lama mais vergonhosa.
António Aleixo
Sou um dos milhões de fãs que em todo o mundo apreciam a obra literária do escritor brasileiro Paulo Coelho. Numa das suas últimas obras, intitulada onze minutos, Paulo Coelho retrata com a fidelidade e a qualidade que lhe é internacionalmente reconhecida o abominável e interminável tráfico de carne humana.
Com a ilusão de um mundo melhor, iludem-se as pessoas necessitadas que empenham tudo o que têm e muito do que não têm e partem em busca do “El dourado” que lhes foi prometido por gente sem escrúpulos. Chegados ao destino, são confrontadas com uma outra atroz realidade. Longe de casa e dos seus, ficam à mercê desta corja de abutres que lhes comem a carne, os ossos e os exploram até às últimas consequências.
No mundo do futebol, vemos todos os dias jogadores reclamarem ordenados em atraso e outros incumprimentos por parte dos clubes. Já vimos clubes com historiais ricamente brilhantes desaparecerem como se das entranhas da terra se tivesse aberto um buraco que os engolisse, para nunca mais serem vistos. Clubes como o Salgueiros, o Campomaiorense e o “nosso” Académico de Viseu, são alguns dos mais célebres e tristes exemplos.
E o que é que acontece às partes envolvidas, na maioria dos casos? O clube, desaparece. Os jogadores, não podem pedir as verbas em falta a um clube que não existe. E os dirigentes? Na maioria dos casos saem sem problemas. E a culpa, para não variar, morre solteira.
Prender um jogador a um clube, só porque este assinou um compromisso em jogar com esse clube, será correcto? Sim. Um jogador que assina um compromisso deve saber o que está a fazer. Agora, usar de subterfúgios e falsidades para que o jogador assine, isso não. Prometer x e pagar y, só porque o jogador está “preso” ao clube, nem pensar.
Muito menos quando as verbas auferidas pelos atletas podem ser a diferença entre continuar a assumir os compromissos tidos com terceiros ou não. E o que dizer, quando se contratam atletas em situação de residência precária em Portugal e se procede a uma autêntica escravidão, mantendo o atleta ligado ao clube sob ameaça de participação às autoridades competentes.
Soube há uns anos de um trabalhador da construção civil, oriundo de um dos países do Leste da Europa, que era um excelente jogador de futebol. Ainda jovem e com apenas 24 anos, foi inscrito (desconheço de que forma) com a promessa de um subsídio da parte do clube que lhe daria para aumentar o seu depauperado pé-de-meia. Quando se soube da situação de ilegalidade visto não ter o visto de residência/trabalho, logo foi ameaçado de que ou jogaria a custo zero até ao final da época (pelo menos), ou seria efectuada queixa ao SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras).
Isto foi no passado, mas acredito que situações como estas continuem a existir infelizmente no presente.
Para que reflictam, deixo uma pergunta no ar. Não será estranho, atletas que foram abusados (desportiva e financeiramente) durante uma época e que disseram “cobras e lagartos” sobre a direcção, renovem contrato com a mesma equipa, dirigida pelos mesmos elementos?
É preciso banir do futebol, pessoas como estas.
1 comment:
De facto existem pessoas dessas no futebol. Fala aqui no caso de directores de clubes, mas também existem jogadores, treinadores etc.
Embora seja muito mau isto acontecer no futebol acredite que eu me dava por muito feliz que esta fosse uma realidade exclusivamente do futebol. Era sinal que nas restantes actividades existia bom senso. Infelizmente todos sabemos que isso não acontece.
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